ALIMENTOS
FUNCIONAIS, OS PROBIÓTICOS E SUA IMPORTÂNCIA NA SUSTETANTABILIDADE
Cláudia Pinto Machado
Gladis Franck da Cunha
Público-alvo: Turma de 8º ano do Ensino Fundamental
Conteúdo: alimentos funcionais, probióticos e alimentação
saudável
Objetivo:
promover a
reflexão sobre a importância da alimentação saudável através do uso de probióticos,
em especial o kefir, e a identificar as principais doenças decorrentes dos maus
hábitos alimentares. Para promover o envolvimento com a temática sugere-se
também a prática do método científico através da observação do crescimento de
colônias de kefir.
Referência
Teórico
A alimentação saudável é um importante
fator na prevenção de doenças. Os hábitos de vida do homem moderno têm se
caracterizado pelo sedentarismo, abuso de cigarro e álcool, excesso de trabalho
e má alimentação. Todas estas condutas têm conduzido a uma série de doenças que
se referem a uma questão de saúde pública. O consumo alimentar inadequado está
associado à muitas doenças (e.g. cardiovasculares, diabetes, obesidade,
doenças intestinais, entre outros). No entanto, a busca por hábitos mais
saudáveis de vida, tais como o uso de alimentos funcionais, em especial os probióticos
têm se mostrado como uma importante prática para melhora da qualidade de vida
das pessoas. A falta de conhecimento em
relação a educação alimentar associada às doenças dela decorridas é uma questão
de sustentabilidade econômica para o país e de bem-estar humano. Uma população
saudável, contribui para a redução de custos com tratamento médicos e
hospitalares. No
entanto, a má alimentação populacional
(principalmente em países de baixa renda da América Latina e Caribe) é uma
questão complexa, relacionada não somente na esfera pública, pois também
refere-se a problemas ambientais decorrentes da produção de alimentos, como por
exemplo a contaminação ambiental resultante do uso de agrotóxicos, bem como o consumo exagerado e o desperdício
de alimentos (Ribeiro, 2017). Assim sendo, é necessária uma visão holística que
perceba a sustentabilidade alimentar saudável não somente pelo que estamos
comendo, mas que também envolva
reflexões acerca de sua origem, processamento, transporte e destino dos
resíduos na produção dos alimentos.
Neste sentido, os
alimentos funcionais, principalmente quando aliados a agricultura orgânica, têm contribuído para a saúde humana e
ambiental. Alimentos funcionais são aqueles que apresentam substâncias que
podem fornecer benefícios para a saúde além daqueles tradicionalmente presentes
nos alimentos. Dentre alguns alimentos funcionais podemos citar os
probióticos, os prebióticos, ácidos graxos poli-insaturados, ômega 3,
fitoquímicos, peptídeos ativos (arginina e glutamina) e as fibras que podem
prevenir ou retardar doenças tais como as cardiovasculares, câncer, infecções
intestinais, obesidade, dentre outras (Padilha e Pinheiro, 2004).
Os probióticos são definidos como suplementos
alimentares à base de microrganismos vivos que afetam beneficamente o
organismo, promovendo o balanço de sua microbiota intestinal (Stürmer et. al. 2012). O termo probiótico provém
do grego, que quer dizer "para a vida".
Os probióticos incluem espécies ácido-láticas dos
gêneros Lactobacillus, Bifidobacterium, Enterococcus, Lactococcus,
Leuconostoc, Pediococcus, Sporo Lactobacillus e Streptococcus;
espécies não ácido-láticas, como por exemplo, Bacillus cereus, Escherichia
coli e Propionibacterium freudenreichii; e as leveduras Saccharomyces
cerevisiae e Saccharomyces boulardii (Copa et. al., 2004).
O kefir é considerado um alimento funcional probiótico
definido como “micro-organismos
vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios a
saúde do hospedeiro” (FAO/WHO, 2002). Os grãos de kefir são uma massa
gelatinosa irregular, branca ou levemente amarela, com uma textura fina e
firme. Apresentam uma estrutura similar a pipoca ou couve-flor, com diâmetros
que variam de 0,3 a 3,5 cm (Carvalho, 2011) (Figura 1). De modo geral são
compostos por proteínas, polissacarídeos, além de uma associação simbiótica de
leveduras, bactérias ácido-láticas, ácido-acéticas entre outros microrganismos.
Figura 1 - Colônia de kefir.
O termo kefir, é
originário do eslavo Keif que significa
"bem-estar" ou "bem-viver". Acredita-se que teve sua origem
nas montanhas do Cáucaso, no Tibet ou Mongólia, há
séculos atrás. Quando pergunta-se sobre a origem dos grãos, os caucasianos respondem
que foram presente de Alah (Deus), o que explica ter
recebido também o nome de "milho do profeta", em alusão a Maomé
(OTLES e CAGINDI, 2003 apud SANTOS et al., 2012)
Existem dois tipos de
kefir: o de água e o de leite, no entanto, os produtos formados durante o processo de
fermentação são similares (SANTOS, 2015).
As principais bactérias e leveduras encontradas no kefir
são: Lactococcus lactis subsp. Lactis; Lactococcus lactis subsp. Cremoris; Lactococcus lactis subsp. Diacetylactis; Leuconostoc mesenteroides subsp. Cremoris; Lactobacillus kefir, Candida kefir e Saccharomyces unisporus
(COCA, 2003 apud Giacomelli,
2004).
Dentre alguns prováveis efeitos funcionais do kefir estão a modulação
da microbiota intestinal, do sistema imunológico, da colesterolemia (colesterol
alto no sangue), prevenção de alergia, infecções e câncer de cólon e como
facilitador de absorção de minerais, entre outros (Santos, 2015).
No entanto, a inclusão destes alimentos, embora sejam
importantes aliados do homem, por si só não garante uma boa saúde. Este hábito
alimentar tem que estar associado a outras práticas de vida saudáveis.
Metodologia
Etapa 1: O sentir – toda aprendizagem
parte de um significado contextual e emocional.
Atividade:
esta etapa de sensibilização pode envolver a apresentação de um documentário
sobre obesidade infantil ou palestra com algum profissional da saúde sobre
doenças decorrentes de má alimentação. Sugere-se o documentário “Muito Além do
Peso” (RENNER; NISTI, 2012) com duração aproximada de 80 (oitenta) minutos.
Este documentário alerta para o crescimento da obesidade infantil no mundo e,
em especial, no Brasil, indicando que em torno de 33% das crianças sofrem de obesidade
ou sobrepeso e, devido a isso, possuem expectativa de vida de dez anos a menos
do que seus pais.
Etapa 2. O perceber – após contextualizar o
estudante precisa ser levado a perceber as características específicas do que
está sendo estudado.
Para se trabalhar o conteúdo
alimentação saudável é proposta uma atividade inicial de acompanhamento do
crescimento de colônias de kefir como uma ferramenta para se experienciar a
metodologia científica em sala de aula ou na sua casa (além do subproduto da
fermentação ser um ótimo alimento nutricional).
Atividade: Praticado
o método científico através da observação do crescimento de colônias de kefir.
Umas das propostas desta prática é mostrar que pode-se fazer
Ciência com materiais baratos e acessíveis, muitos dos quais são utilizados no
nosso dia-a-dia. O kefir normalmente não é vendido, no entanto existem vários
grupos na internet que fazem doação das colônias.
A proposta desta atividade é observar o crescimento de colônias de
kefir em relação aos diferentes tipos de açúcar, tais como: açúcar branco fino,
cristal, demerara e mascavo. Para
realização do experimento serão necessários os seguintes materiais: copos de
plástico (volume 500ml), balança digital (pode ser a de cozinha); termômetro
ambiente, colher, peneira, tecido tipo um voal, (ou similar que permita
ventilação), atilho para prender o tecido sobre o copo, diferentes tipos de
açúcar, água mineral ou fervida resfriada à 25oC (temperatura
ambiente).
O método tradicional da produção da bebida pode ser feito, por exemplo,
com 25 gramas de grãos (1 colher de sopa), adicionados em 300 ml de água
contendo 25 gramas de açúcar bem diluído (Figura 2 e 3). Após o período de
fermentação, que varia de 18 a 24 horas, em temperatura ambiente, os grãos são
separados da bebida fermentada por peneiração. Retornar os grãos ao copo
(cuidar para não perder material nesse processo) e repetir o procedimento. Após
uma semana medir o peso da produção. Sugere-se realizar este experimento pelo
menos durante um mês. Não esqueça que a limpeza do material é crucial para se
evitar a contaminação e obtenção de sucesso no experimento.
Figura 2 - Processo de preparação do kefir.
A. Pesagem do açúcar em balança. B. Processo de preparação com água e açúcar.
C. As quatro soluções feitas com os diferentes tipos de açúcar. Da esquerda
para a direita: açúcar mascavo, demerara, cristal e açúcar fino.
Figura 3 -
Preparação do processo para a fermentação finalizada. A. Pesagem do kefir. B.
Kefir adicionado à solução de açúcar mascavo.
Por fim, faça uma tabela planilha
com a data (ver modelo em anexo 1) para se aferir as medidas físicas (e.g.
temperatura ambiente). Opcionalmente, pode-se medir o pH da solução para avaliação
de outros fatores que possam estar afetando o crescimento das colônias. O
filtrado que foi submetido a fermentação pode ser guardado para a preparação de
outros produtos, como a produção de refrigerante natural (ver receita no anexo
2).
Feito o experimento, apresentar os
resultados e discutir as prováveis causas que influenciaram no crescimento das
diferentes colônias.
Etapa 3. O compreender – é quando se
dá a construção do conceito
Nesta etapa, após a conclusão dos experimentos sobre
crescimento das colônia de kefir, os alunos realizarão uma pesquisa sobre os
custos dos medicamentos e as vantagens da medicina preventiva alimentar
associado aos uso dos probióticos.
Atividade:
peça para os
alunos fazerem uma pesquisa sobre dados estatísticos relacionados as grandes
epidemias mundiais relacionadas aos maus hábitos alimentares e os benefícios do
uso dos probióticos, buscando sempre que possível destacar dados do Brasil.
Adicionalmente, os alunos podem também destacar a importância dos alimentos pré-bióticos
(que são os alimentos ricos em fibras). Sugere-se a utilização de dados de
Organização Mundial da Saúde (OMS), sites oficiais governamentais sobre a
questão política de saúde e alimentação, bem como artigos científicos. Orientar
os alunos para não utilizarem blogs, Wikipédia, ou similares, pois muitas vezes
estes sites trazem informações errôneas.
Etapa 4. O definir – significa esclarecer um
conceito.
Atividade:
após a
pesquisa, os alunos podem fazer painéis para apresentação destes dados aos colegas.
Etapa
5. O argumentar.
Atividade:
aqui os alunos podem elaborar um texto sobre as vantagens de se utilizar o kefir
indicando, a partir do experimento realizado, quais as melhores condições de
cultivo. Além disso, podem elaborar uma sugestão de receita saborosa para o
consumo do kefir ou outro alimento probióticos. Bem como, podem pesquisar
outros tipos de alimentos probióticos, prebióticos, orgânicos, etc. Ou ainda,
podem pesquisar e sugerir outros hábitos saudáveis que complementem uma boa
alimentação.
Etapa
6. O discutir – nesse passo, o estudante deve formular uma cadeia de raciocínio
através da argumentação.
Atividade:
nesta etapa são elaborados os projetos para a Feira de Ciências, que podem
envolver dados sobre consumo de medicamentos pela população, custos ou efeitos
colaterais de medicamentos e, em contraposição, podem sugerir alimentos
probióticos e formas de utilizá-los. Nesta atividade os alunos podem elaborar e
testar alimentos.
Etapa
7. O transformar – o sétimo e último passo da (re)construção do conhecimento é
a transformação. O fim último da aprendizagem é a intervenção na realidade. Sem
esse propósito, qualquer aprendizagem é inócua.
Atividade:
esta etapa se dá na apresentação dos trabalhos desenvolvidos em uma Feira de
Ciências.
Referências
CARVALHO, N.
C. 2011. Efeito do método de produção de kefir na vida de
prateleira e na infecção experimental com Salmonella Typhimurium em
camundongos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, 135
p.
COPPA GV, BRUNI S, MORELLI L, SOLDI
S, GABRIELLI O. The first probiotic in humans: human milk oligosaccharides. J. Clin. Gastroenterol. 2004, 38:S80-3.
FAO/WHO (Food and Agriculture Organization/World
Health Oraganization). Working Group Report on Drafting
Guidelines for the Evaluation of Probiotics
in Food. Londres, Ontario, Canada: FAO/WHO, 2002. 11p.
GIACOMELLI,
P. Kefir – alimento funcional natural. Trabalho
de Conclusão de Curso de Graduação de Nutrição. Universidade de Guarulhos,
orientador Carlos Eduardo Nascimento Sassan, 2004.
Disponível em: http://kefir.xpg.uol.com.br/kefir_alimento_funcional.pdf
PADILHA,
P. C., PINHEIRO, R.L. 2003. O Papel dos Alimentos Funcionais na Prevenção e
Controle do Câncer de Mama. Revista
Brasileira de Cancerologia, 50(3): 251-260
RIBEIRO,
H., JAIME, P.C, VENTURA, D. 2017. Alimentação e sustentabilidade. Estudos Avançados,
31(89): 185-198.
RENNER,
E.; NISTI, M. Muito Além do Peso.
Direção de Estela Renner. Produção de Marcos Nisti.
[s.l]: Maria Farinha Filmes, 2012. Disponível em: http://www.muitoalemdopeso.com.br Acesso em: 26\10\2017.
SANTOS, L.
S. 2015. Kefir, propriedades funcionais
e gastronômicas. Cruz das Alamas - Bahia. Editora
UFRB, 123 p.
SANTOS, F.
L.; SILVA, E. O.; BARBOSA, A. O.; SILVA, J.O. Kefir: uma nova fonte alimentar funcional? Publicações da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2012. Disponível em: https://www.scribd.com/document/291868429/Kefir-uma-nova-fonte-alimentar-funcional-UFRB-pdf, acesso em 26/10/2017.
STÜMER, E. S., CASASOLA, S., GALL, Maristela. C., GALL,
Magda C. 2012. A
importância dos probióticos na microbiota intestinal humana. Rev. Bras. Nutr. Clin., 27 (4):
264-72.
Sugestão de leituras:
Ministério
da Saúde. PNAN - Política de Alimentação e Nutrição. Disponível em http://dab.saude.gov.br/portaldab/pnan.php. Acesso em 25/10/2017.
Dias, P. A., Rosa,
J. V, Tejada
T. S, Timm, C.D. 2016. Propriedades antimicrobianas do kefir. Arq. Inst. Biol.: v.83, 1-5. Disponível
em http://www.scielo.br/pdf/aib/v83/1808-1657-aib-83-e0762013.pdf. Acesso em
25/10/2017.
Anexo 1
Planilha
para registro dos dados.
Data |
Temperatura ambiente (oC) |
pH |
Observações |
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Anexo 2
Receita de refrigerante de Kefir de suco de uva
tinto
Ingredientes:
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Água kefirada (produto resultante da fermentação de
24 horas).
·
Suco de uva integral sem açúcar e orgânico.
Preparação:
·
Misture a água
kefirada em partes iguais ao suco usado. Transfira a mistura para uma garrafa
PET, deixando um pouco de espaço vazio nela (não encher toda). Na hora de
fechar, faça pressão com os dedos na lateral da garrafa pra tirar o ar de
dentro e fechar bem a tampa.
·
Deixe fora da
geladeira para realizar a segunda fermentação.O tempo varia de acordo com a
temperatura local, quanto mais quente, mais rápido fermenta. O período pode variar
entre 12 a 24 horas. Quando a garrafa estiver inchada (o plástico rígido) a
bebida está pronta.
·
Leve a geladeira
para gelar.
·
Tenha cuidado ao
abrir a garrafa, pois ela pode dar um estouro devido a produção de gás
carbônico.
Observação: há diversas
receitas na internet ou use sua imaginação!!